No passado dia 28 de janeiro, Braga foi o palco da terceira edição do Intralogística 2025, evento da Supply Chain Magazine dedicado à logística interna e às operações, que reuniu cerca de 180 profissionais.
A conferência teve como mote “Da Teoria à Prática: Implementar e Inovar na Intralogística”, numa ótica de que, mais do que dizer, é fazer, e mostrar os resultados. Assim, ao longo do dia foram apresentados vários casos práticos, de diversas áreas, e através dos quais as empresas puderam demonstrar tanto a evolução das suas operações e o seu nível de transformação digital, como novas formas de as empresas conseguirem combater dores comuns.
Mesmo tendo sido um dia muito direcionado para a tecnologia, um dos temas recorrentes ao longo das intervenções foram as pessoas.
Se, por um lado, Horácio Neri, senior manager da LTPLabs, iniciou o dia a explicar “Como tirar proveito de AI e Advanced Analytics para maximizar a eficiência logística”, enquanto apoio e suporte ao planeamento e à previsão, Gisela Santos, diretora da Unidade de Gestão e Engenharia Industrial, e Nilza Ramião, coordenadora da área de Biomecânica e Saúde, do INEGI, falaram de “Humanlogistics – O lado humano da Intralogística”, e da falta de pessoas que o setor tem vivido, levando a uma maior importância de investir na retenção de talento.
No entanto, tal como defenderam, estes temas devem caminhar lado a lado. Horácio Neri defende que é preciso dados, mas também formar pessoas para que os interpretem da forma correta e que consigam, através deles, criar valor. No caso das oradoras do INEGI, apresentaram casos em que a aplicação de tecnologia nas operações veio tornar os processos mais fáceis para os colaboradores, melhorando o seu conforto e forma de estar.
“Pessoas ainda são fundamentais, mesmo com a automação. Temos de cuidar delas, mantê-las nas operações e na máxima produtividade. A satisfação ajuda a manter a produtividade.”
– Gisela Santos, INEGI
Após um momento de digitalização e humanização das operações, Carlos João Pereira, CIO da Aquinos, e Pedro Gordo, supply chain business manager da Generix, iniciaram as exposições de casos práticos com o caso do Gato Preto. 2021 ficou marcado pelo ano de digitalização da marca, quando decidiram internalizar as suas operações logísticas, e com o desafio adicional de o fazerem em poucos meses, ou perderiam o acesso a toda a informação.
Seguiu-se a Bosch Industry Consulting, com Tiago Sacchetti, diretor ibérico, e João Castro, consultor industrial especialista em logística, que apresentaram um “Modelo de Simulação para Processos Produtivos e Logísticos Otimizados”. Os oradores defenderam a necessidade de colocar a teoria em prática, antes sequer de existir prática, através do uso de Digital Twins para simular situações futuras e, assim, melhorar os processos antes sequer de eles existirem. “Conseguimos gerir e melhorar um armazém ainda antes de ele existir, e efetuar vários loops de melhoria. É possível retirar todos os indicadores e melhorá-los ainda antes de eles existirem, o que reduz os riscos de investimento das empresas”, explicam.
António Fernandes, diretor de inovação e projetos da Luís Simões Logística Integrada, e Sergio Cuadrado, iberia sales director da Reflex Logistics Solutions by Hardis Group, apresentaram o caso da implementação tecnológica da Luís Simões, nas suas várias plataformas ibéricas, onde já contam com grandes investimentos tecnológicos, e os seus resultados concretos. António Fernandes destacou ainda a importância de automatizar e digitalizar com um forte planeamento, pois tem custos elevados para as operações e é importante que os clientes estejam alinhados nesta estratégia.
Ainda ao nível dos investimentos tecnológicos, Óscar Lopes, DLI – O.E. Fluxos Logísticos da Horse Aveiro, anteriormente conhecida como Renault Cacia, destacou o alto nível de automação da fábrica, tendo sido feito um grande investimento em AGV e AMR, num total de cerca de 100 equipamentos que circulam em mais de 200 circuitos pela fábrica. Através destes autómatos, a fábrica consegue obter um constante suporte às suas operações em transportes recorrentes, e quando não têm uma rota definida vão recarregar baterias.
Passando à temática da analítica, Fernando Silva, project manager iberia, e José Correia, gestor de projetos ibéria, da Arvato Systems, apresentaram o software de Inteligência Artificial generativa aplicado à logística analítica. Através desta solução, as empresas conseguem utilizar a inteligência artificial para obter análises de dados detalhadas em segundos, gráficos e até mesmo sugestões de action plans geradas pelo sistema, podendo inclusive guardar pesquisas recorrentes para as próximas análises.
Após passarmos por vários casos, soluções e insights, deu-se o momento de nos debruçarmos sobre a temática da conferência: “Da Teoria à Prática: Implementar e Inovar na Intralogística”, numa mesa-redonda que contou com a presença de António Guedes, business consultant da Code One, Maria do Sameiro Carvalho, professora da Universidade do Minho e vice-presidente da direção executiva da DTx Colab, Marcelo Leite, head of Logistics & US Operations da B.Parts, João Reis, supply chain director do Barbot Group, Bruno Patrão, IT director da Artevasi, sendo moderada por Miguel Nuno Silva, Trainer & Senior Consultant in SCM, Logistics, Supply Chain Management da Admicami.
Durante esta mesa redonda houve um grande foco entre o equilíbrio entre a tecnologia e analítica e os recursos humanos, tal como referido no início da sessão. Se, por um lado, é necessário dados com que trabalhar, as empresas também precisam de contar com pessoas com capacidade de os interpretar, de forma a tomarem as melhores decisões. Miguel Silva destaca que existem quatro pilares para a digitalização a ter em conta, e pela seguinte ordem: pessoas, processos, tecnologia e execução.
Os oradores falaram um pouco sobre as suas operações e sobre as suas experiências com a digitalização, sempre com um olhar sobre as pessoas e sobre a diferenciação corporativa estar nestas e nas suas skills. Ainda assim, as empresas deparam-se com uma dualidade de decisão: as pessoas querem tecnologia, mas veem-na como uma ameaça. António Guedes defende que é tudo uma questão de comunicação, e que é necessário explicar às pessoas quais serão os seus benefícios ao trabalhar em conjunto com determinada tecnologia, sendo-lhe mais fácil aceitar algo que compreenda.
A iniciar a tarde de conferências, Marlos Silva, R&D+I Director | Area Leader Digital & Innovation da Sonae MC, falou de “Inovação em automação e robótica para operações de retalho”, estando estes tópicos muito presentes nas operações da retalhista. Assim, apresentou vários casos de projetos de automação e inovação dentro da ótica de “retalho de futuro”, como foi o caso recente da recente maior loja inteligente do mundo, em Leiria.
Seguiu-se Sofia Pereira, Logistics & Customer Service Director da Casa Mendes Gonçalves, trouxe-nos o caso “Da Golegã para o Mundo”, em que explicou os investimentos recentes que fizeram nas suas novas instalações, ao nível das melhorias operacionais. Exemplos disso foram o armazenamento, minimização de erros, eficiência e forecast logístico, obtendo, em poucos meses, melhorias de eficiência e taxa de entrega de quase 100%.
Pedro Alves e André Ferreira, diretores logísticos da Artevasi, apresentaram o tema “Do Armazém à Estratégia – O Impacto do WMS e da Análise de Dados na Logística Moderna”, onde apresentaram o caso da implementação do WMS da empresa e dos benefícios que alcançaram, como a maior visibilidade dos produtos, a melhor organização face à rotatividade dos produtos, ou a otimização do espaço.
Ao nível das soluções, David Cayuela Molinero, head of Mobile Robots Península Ibérica da Jungheinrich, com o tema “Product development: innovation WITH and FOR our costumers”, relativo à importância das parcerias e do desenvolvimento de soluções em conjunto com os parceiros para responder diretamente às necessidades dos seus clientes. Isto levou a que desenvolvessem soluções para operações muito específicas, e comuns a algumas áreas, onde se encontra a área de automação.
Carolina Galeão Figueiras, marketing director da VRC Warehouse Technologies, apresentou “O Caso Real da Twintex na Automação de Armazéns”, um caso da área da moda que trouxe ganhos enormes ao nível da segurança, eficiência nos processos e rapidez no transporte das mercadorias, por não haver intervenção humana. Através destes investimentos, foi ainda possível obter um melhor acompanhamento e informação em tempo real, facilitando as tomadas de decisão, e otimizando toda a operação.
Quase a terminar o dia, Jorge Martins, responsável técnico do Centro de Distribuição Nacional da Leroy Merlin, o maior centro logístico do país, recentemente inaugurado, e as reduções de custos e aumentos de produtividade que atingiram com os recentes investimentos, suportados em sistemas WMS, com uma abrangência desde o próprio centro até às plataformas regionais. Com este novo armazém, destacaram desde logo uma maior motivação das equipas, corroborando mais uma vez a importância das pessoas nas operações, e melhorias operacionais como a redução de lead times, de custos e da pegada de carbono por palete transportada, bem como uma melhor otimização dos recursos de transporte.
“Conseguimos gerir desde o saquinho de parafusos a toldos de quatro metros, tampos de madeira, e outros produtos de grande volume.”
– Jorge Martins
A terminar o dia, Martim Mariano, fundador e diretor criativo da Tudo Bem Escrito, fechou o evento com um momento de reflexão sobre as chefias. Foi através do mote “Sabes quem é que morreu? O Chefe!”, que decidiu – de forma bem-humorada e com uma dose de ironia e sarcasmo -, distinguir as tradicionais chefias, autoritárias, da atual liderança, que coloca as necessidades dos colaboradores em primeiro plano, e o impacto que cada uma destas tem na motivação, produtividade e bem-estar das pessoas.
Foi este o resultado da Intralogística 2025: pessoas e tecnologia. Lado a lado, num sentido cooperativo e tendo sempre como foco os benefícios mútuos, para a empresa e para os colaboradores, procurando facilitar o seu trabalho através da transformação digital e automação e, claro, sem competição.