No passado dia 26 de fevereiro, a Associação Portuguesa de Logística (APLOG) realizou a terceira edição do seminário Imobiliário Logístico, no Templo da Poesia, no Parque dos Poetas, em Oeiras. A Supply Chain Magazine foi Media Partner do evento e esteve presente.
Afonso Almeida, presidente da associação, iniciou o dia de debates destacando desde logo a grande procura existente por novos espaços para investimentos na logística, e as oportunidades que foram surgindo com temas cada vez mais atuais como o e-commerce ou o nearshoring.
A importância do imobiliário logístico tem-se destacado entre as preocupações do setor, havendo uma grande procura para muito pouca oferta. Esta foi uma das conclusões apresentadas por Andrew Blennerhassett, da Savills UK & EMEA Logistics e Alexandra Gomes, da Savills Portugal, durante a sua apresentação. Olhamos para um mercado com uma taxa de disponibilidade praticamente nula, e a que há, não é interessante para os ocupantes nacionais, especialmente para os investidores estrangeiros. Enquanto a procura está em cerca de 1,2 milhões de metros quadrados, a oferta é de aproximadamente 450 mil metros quadrados, e não corresponde totalmente ao interesse dos investidores, deixando um grande desequilíbrio entre as necessidades e as infraestruturas existentes. 46% da oferta está classificada como grade C ou inferior, pelo que existe um grande potencial de modernização.
De acordo com um estudo apresentado, os crescimentos dos preços de rendas são o principal desafio apontado pelos inquiridos, com 36%, seguindo-se as pressões de custos, energéticas e laborais, com 35%. O acesso das pessoas à plataforma e o fornecimento energético são os desafios que se seguem, ambos com 24%.
Ainda assim, quando se analisam os níveis de ESG e os custos económicos, Portugal está numa posição estratégica para receber investimento estrangeiro, sendo um dos melhores classificados.
O Programa Simplex foi uma forma de simplificar, modernizar e inovar os processos dos projetos empresariais, melhorando assim o ambiente de negócios e facilitando o acesso aos serviços públicos por todas as pessoas. No entanto, Andreia Mousinho, da PLMJ, considerou que, na prática, estes processos não são tão facilitados quanto era suposto, e há municípios que ainda rejeitam comunicações prévias e poucas pessoas aceitam não ter uma aprovação escrita, por desconfiança. Defendeu que deveria haver uma uniformização dos procedimentos e alertou para as alterações que ainda serão feitas ao nível do simplex, o que cria alguma instabilidade e dificulta a compreensão e o acompanhamento das leis por parte das pessoas, empresas e municípios.
Foi ainda destacada a importância de os investimentos locais acompanharem as novas e modernas infraestruturas nacionais, como foi o caso da ferrovia, apresentado por Frederico Francisco, consultor sénior da AMT e ex-secretário de Estado das Infraestruturas, e detalhado por Carlos Fernandes, vice-presidente da Infraestruturas de Portugal. A inserção de comboios de 750 metros foi um dos temas comuns ao longo do dia, bem como o impacto que este acréscimo poderá ter na sustentabilidade. Foram ainda apresentados os investimentos que estão a ser feitos ao nível da rede nacional e de acesso internacional, que poderão potenciar os investimentos privados.
Os portos também foram alvo de debate, devido à sua importância para o desenvolvimento da economia através das trocas comerciais, tendo o país uma localização de relevo para a entrada de mercadorias na Europa, e portos com capacidade de resposta, e nos quais estão a ser feitos grandes investimentos. Ainda assim, carecem de serviços complementares ao nível da intermodalidade para obterem um melhor aproveitamento dos recursos e alargamento do seu hinterland.
A necessidade de todas estas ferramentas complementares ao investimento em infraestruturas logísticas foi também defendida durante as intervenções, sendo uma forma de atrair os investimentos nos espaços. A proximidade à população e a serviços complementares facilita tanto a procura por recursos humanos quanto de fornecedores e parcerias, questões que os investidores procuram e que acrescem valor à localização.
Durante a conversa “planeamento do território vs terrenos finalistas”, Ângela Ferreira, da Câmara Municipal de Loures, constatou ser necessária a parceria com os municípios para os investimentos, tendo os investidores de explicar as vantagens dos investimentos logísticos para a região e para o país.
Nesse mesmo contexto, Gonçalo Lobo, da Lobo, Carmona & Associados, conclui que “a logística em Portugal tem de ser vista como uma prioridade para o ordenamento do território. Devia-se obrigar que cada região tivesse uma área mínima dedicada à logística, para que haja uma maior sustentabilidade, descarbonização e promoção económica”, acrescentando haver falta de planeamento logístico no ordenamento do território.