José Miguel Almeida é atualmente global procurement director do Mehler Group. O seu percurso profissional, numa primeira fase, esteve dividido entre as áreas de logística integrada e direção comercial e vendas, mas assim que deu o “salto” tem vindo a crescer a nível profissional e pessoal. Com uma carreira que já soma cerca de 25 anos, José Miguel Almeida tem alguns conselhos para partilhar.
1- O que o levou a escolher esta profissão?
Comecei a minha carreira no ano 2000 com uma atividade profissional no setor têxtil, que sempre me atraiu, e ao qual voltei depois de breves incursões noutras áreas de negócio.
Apesar de ter aparecido nos anos 90, o supply chain management era, no nosso país e nessa altura, um conceito absolutamente desconhecido no contexto empresarial. Falava-se, – isso sim – em logística. Todavia, no desempenho das minhas funções à época, acabei por ter contacto com todo o dinamismo que a função acarreta, rapidamente percebendo onde realmente me sentia bem.
Até 2014, tive parte do meu percurso profissional dividido entre a logística integrada e a direção comercial e vendas, funções que desempenhei com agrado e nas quais cresci profissionalmente por tudo o que me foi dado aprender. E foi precisamente nesse ano que tive a oportunidade de dar início a uma nova fase profissional, abraçando o enorme desafio de assumir as funções de supply chain manager na Mehler Engeneering Products Portugal, a empresa que continua a ser a minha casa.
Ao longo destes últimos dez anos fui convidado a assumir muitas outras responsabilidades dentro do grupo, o que me proporcionou um crescimento do ponto de vista profissional e pessoal. Hoje sou o global procurement director da Mehler, que é um dos principais fabricantes de fios e têxteis técnicos do mundo – concebendo e produzindo artigos para uma grande variedade de mercados – aplicações e utilizações finais, produzindo em três continentes e distribuindo para todo o mundo.
2- Qual o maior desafio para uma equipa de procurement dentro da organização?
O procurement é parte integrante e fundamental do supply chain management. Complementa-se com a logística e planeamento, sendo o bom desempenho desta função cada vez mais valorizado pelas empresas, pois permite uma otimização de custos, a execução dos seus objetivos operacionais de forma mais eficiente e o aumento da rentabilidade global do negócio. Neste momento esta já é uma posição reconhecida como “key” pelas grandes empresas e não só, uma vez que tem em vista a definição do posicionamento estratégico, do sucesso e do crescimento sustentado de uma organização.
Com a turbulência e a competitividade do mercado atual, a posição de procurement desenvolve uma compreensão holística do negócio permitindo-se, naturalmente, estar próxima dos processos críticos de tomada de decisão, R&D e produtivos, influenciando todas as partes interessadas, concebendo estratégias de compras ajustadas aos objetivos estratégicos da empresa e colaborando muito de perto com equipas multifuncionais. Esta exposição a diferentes vertentes da organização posiciona o procurement como um pensador estratégico com uma ampla e profunda perspetiva de conhecimento do negócio.
3- Quais as três competências-chave que mais valoriza, ou considera fundamentais, num profissional de compras e procurement?
No procurement podemos sempre contar com um dia-a-dia entusiasmante e dinâmico dado que o atual contexto empresarial mundial nos obriga a estar preparados para reajustar e redefinir planos de ação previamente definidos. Além de todas as competências básicas intrínsecas à função, enumero como vantagens competitivas para o desempenho eficaz da função a capacidade de resiliência, profundamente necessária para quem lida diariamente com a incerteza dos mercados, bem como a flexibilidade para, a qualquer momento, ter a capacidade de ajustar decisões às vezes há muito tomadas, no sentido de ir ao encontro do melhor interesse da empresa e das suas prioridades, mas também dos clientes, através da gestão do risco. Destaco ainda a necessidade de um discurso coerente e assertivo na comunicação com as equipas diretas e no report à administração, para que a mensagem flua perfeitamente e haja um alinhamento harmonioso e transversal no interior de toda a organização.