A crescente tensão comercial entre os Estados Unidos e o resto do mundo já está a remodelar as cadeias de abastecimento globais. A Walmart Inc. é um exemplo da transformação que está em curso.

A gigante do retalho norte-americana solicitou reduções significativas de preços a alguns dos seus fornecedores chineses, numa tentativa de minimizar o impacto das tarifas impostas pela administração Trump. No entanto, segundo avança o “Transport Topics”, esta exigência está a encontrar forte resistência por parte dos fabricantes e fornecedores asiáticos.

De acordo com fontes próximas das negociações, fornecedores de setores como utensílios de cozinha e vestuário foram pressionados a cortar os preços em até 10% por cada nova ronda de tarifas, assumindo assim a totalidade do custo adicional gerado pelos impostos sobre importação de bens. Contudo, poucos aceitaram estas condições de acordo com a mesma fonte.

Os fornecedores chineses enfrentam margens de lucro cada vez mais reduzidas devido à estratégia da Walmart de manter custos baixos para continuar competitiva. Em muitos casos, cortes superiores a 2% resultariam em prejuízos, enquanto outros fornecedores afirmam que os seus próprios fornecedores upstream recusam reduções superiores a 3%. Como alternativa, algumas empresas estão a explorar a compra de componentes no Vietname, levantando preocupações sobre o impacto desta estratégia na qualidade final dos produtos.

Esta pressão da Walmart reflete um cenário mais amplo de mudanças na cadeia de abastecimento global, onde os retalhistas tentam mitigar o impacto das tarifas sem repassar os custos para os consumidores. No entanto, outras grandes cadeias de retalho, como a Target Corp. e a Best Buy Co., alertaram que os preços ao consumidor provavelmente irão aumentar como consequência da guerra comercial, que também afeta o México e o Canadá.

A Walmart iniciou este processo no início de fevereiro, quando a primeira ronda de tarifas de 10% foi aplicada. As exigências de redução de preços intensificaram-se no final do mesmo mês, quando a administração Trump ameaçou duplicar os impostos.

Embora a Walmart afirme que cerca de dois terços dos seus produtos sejam atualmente abastecidos nos Estados Unidos, a sua dependência de fornecedores chineses continua significativa. A estratégia agressiva de negociação da gigante retalhista levanta questões sobre o equilíbrio entre custos, qualidade e sustentabilidade da cadeia de abastecimento no longo prazo.

O CEO da Walmart, Doug McMillon, já alertou que o comportamento dos consumidores está a mudar devido à pressão financeira, com muitos a optarem por embalagens menores e compras mais racionais. A gestão eficiente da cadeia de abastecimento torna-se, assim, um fator crítico para garantir que o impacto das tarifas seja minimizado, sem comprometer a qualidade e acessibilidade dos produtos.

Para os profissionais de supply chain, estas mudanças destacam a necessidade de diversificar fornecedores e explorar alternativas na Ásia e noutros mercados emergentes. A capacidade de negociação com fornecedores upstream, bem como a avaliação do impacto de mudanças na qualidade dos produtos, serão elementos-chave para mitigar riscos e garantir a resiliência da cadeia de abastecimento.

Com a escalada das tensões comerciais, o setor de supply chain enfrenta um período de ajustes significativos. Empresas que conseguirem equilibrar eficiência de custos com qualidade e continuidade de abastecimento estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios impostos pelo novo cenário global.