A logística de frio enfrenta desafios cada vez mais complexos, desde o controlo rigoroso da temperatura à necessidade de soluções sustentáveis e eficientes. Foi para debater estas questões que especialistas e profissionais do setor se reuniram na terceira edição do Seminário de Logística de Frio, promovido pela APLOG, no Museu do Oriente. O evento destacou temas essenciais como tecnologia, resiliência e inovação, proporcionando um espaço para partilha de conhecimento e discussão sobre o futuro do setor.

Os desafios do controlo de temperatura são complexos e essenciais, pois envolvem questões de qualidade e de segurança bastante rigorosas. Assim, o evento trouxe a palco profissionais de diversos setores, para partilharem as suas dificuldades, experiências e soluções.

Afonso Almeida, presidente da APLOG, abriu a sessão, contextualizando a importância da sessão com as dificuldades sentidas e com as soluções disponíveis no mercado, como tecnologias de monitorização e gestão, infraestruturas e sustentabilidade, e que envolve a adaptação de infraestruturas a longo prazo. O crescimento deste setor associado ao e-commerce é outra das preocupações das empresas, carenciando de melhorias de última milha e provas de sustentabilidade.

Aberto o debate, Eunice Silva moderou o primeiro painel, sob o tema “Qual a importância do frio nas diferentes cadeias de valor do Retalho”, com a participação de Rui Braz, da MC, Tânia Diogo, do Lidl, e Ricardo Mestre, da Jerónimo Martins.

Rui Braz começa por apontar que nesta área existem grandes desafios para as empresas, sendo necessário que estas estejam atentas a cada ponto da cadeia e que criem um sistema resiliente, capaz de responder às necessidades futuras. Por outro lado, nota que devem investir nas pessoas e em fornecer-lhes as ferramentas necessárias para desempenharem os seus trabalhos em temperaturas de frio, bem como pausas obrigatórias e formação. Dois pontos importantes que aponta para este tipo de infraestruturas são o isolamento e a capacidade de monitorização da temperatura, e ao nível do transporte a capacidade de garantir temperaturas diferentes no mesmo veículo e o controlo “à caixa”, o que já fazem para a última milha. Neste sentido, a MC tem trabalhado para centralizar as suas operações.

Em oposição a esta decisão, a Jerónimo Martins demonstra uma estratégia diferente, dividindo o país entre norte, centro e sul para a sua distribuição. Ricardo Mestre apontou que têm muitos SKU e movimentam milhares de paletes e de produtos, sendo necessário adaptarem-se à volatilidade. O responsável nota que é necessário haver um grande foco no controlo, pois não pode haver falhas na cadeia, por riscos para a saúde e qualidade. O desafio urbano foi uma grande barreira apontada por Ricardo Mestre, pois requer um controlo ainda maior e tem outros desafios associados à perecibilidade e consequente necessidade de rapidez nas entregas. A adoção de tecnologias de IA e machine learning foram formas apontadas como possíveis de apoiar os decisores na previsão das entregas, artigo a artigo.

Por sua vez, Tânia Diogo conta que a estratégia da empresa tem uma dimensão europeia, sendo necessário gerir as compras e o transporte a uma dimensão maior, o que se torna um grande desafio. O Lidl tem um grande foco na eficiência e no controlo de temperatura, contando com recursos de monitorização ou de antecipação de problemas. A nível tecnológico, implementaram um sistema de encomendas automático que prevê as necessidades da loja, tendo assim reduzido os stocks no entreposto, porém, é sempre necessário alguma contagem manual para garantir as previsões, bem como manutenção diária.

Seguidamente, Angela D’Amato e Hugo Oliveira, da Americold, apresentaram a empresa e as soluções que têm para as empresas, a nível local e global, bem como o Americold’s Operating System (AOS). Através deste sistema, a empresa consegue avaliar o desempenho, níveis de eficiência. Segundo os responsáveis, os mercados de Portugal e Espanha são os melhores mercados em termos de eficiências, práticas ou questões energéticas.

Sob o mote “Operadores Logísticos – Os desafios da cadeia de frio”, José Limão moderou o segundo painel do dia, com Luís Ferreira, da Havi, Vítor Figueiredo, da Logifrio, Luís Mota, da STEF, e Manuel Gomes, da Salvesen Logistics.

Luís Ferreira começou por apontar as ameaças ao nível das instabilidades a nível nacional e internacional e a dependência de energia e falta de autossuficiência desta área. Por outro lado, nota que se houvesse menos burocracias e mais apoios à transição energética, já seria uma ajuda para os operadores logísticos. Ao nível da mão de obra, aponta que é difícil recrutar, especialmente para frio negativo, bem como reter.

No caso da Logifrio, Vítor Figueiredo considera que o diesel ainda é muito necessário, apesar da necessidade de descarbonização. Conta que os prazos de contratação ainda não lhes permite fazer desafios mais arrojados, o que faz com que os operadores acabem por fazer investimentos semelhantes, sendo o fator diferenciador as pessoas. Ainda assim criaram a primeira comunidade energética há poucos meses, otimizando o autoconsumo da empresa. Um desafio que advém das tendências atuais é a adaptação aos padrões de consumo, e se antes movimentavam três paletes, atualmente são 30 quilos.

Luís Mota aponta que a STEF investe muito na informação, pois são obrigados a tomar decisões, sendo exemplo disso a procura por conhecer as necessidades dos clientes. Embora também defenda a necessidade de investir em automação, considera que as pessoas ainda são muito importantes para as empresas. Relativamente à sustentabilidade, nota que o autoconsumo já era uma realidade na empresa, como forma de minimizar os consumos de eletricidade.

Para a Salvesen, o desafio energético também é uma realidade, pois o abastecimento ininterrupto é caro, mas necessário para lidarem com diversas famílias de produtos a diferentes temperaturas. Manuel Gomes conta que investiram em medidas internas para reduzir o consumo energético. Relativamente aos recursos humanos, investem na formação de pessoas de linha e de gestores intermédios, mas aponta a dificuldade de atração de talento como uma realidade, tendo de recorrer a pessoas externas e que apenas falam inglês, o que torna a comunicação menos fluida. Outra medida é o investimento em automação (como AGV e AMR), porém, está dependente do mercado, pois é necessário escala, e apoia uma colaboração entre os operadores.

Um dos desafios da logística de frio é a automação a baixas temperaturas. Nesse sentido, Philippe Chiron, da Fives Syleps, abordou o tema “Automation processes in a cold logistics operations”, soluções que têm tido cada vez mais procura pelo mercado. Os autómatos da empresa funcionam a diversos níveis de temperatura e em diversos modelos de funcionamento.

A iniciar a tarde de debates, Manuel Pizarro, da ZOR, e Daniel Oliveira, da CodeOne, falaram sobre “Entrega Sustentável e Inteligente de Produtos Alimentares Sensíveis: Inovação em Rastreabilidade, Reutilização e Monitorização de Condições”. Durante esta apresentação, também foram apresentadas diversas soluções de frio passivo, e contextualizadas com as tendências crescentes, bem como apresentadas as novas soluções das empresas, em parceria.

Ao nível das “Infraestruturas e Inovação”, o painel de debate contou com a moderação de Luís Cruz. A apresentar os diversos envolvidos, Ricardo Nogueira, da Infrisa, Diogo Castro, da Yilport Liscont, Fábio Vitorino, da Maersk, Carlos Sampaio, da Elergone, e Frederico Rosa, da MC.

Ricardo Nogueira começou por apresentar as soluções de Digital Twins para o planeamento e pré-construção do modelo em formato digital. O responsável destaca as vantagens de poder simular toda a operação de um futuro espaço no formato fiel e digital, podendo antecipar possíveis erros de operação sem custos reais de construção.

No caso da Yilport, Diogo Castro expôs o portal de acesso Infinity, e os seus benefícios ao nível da rastreabilidade e controlo da operação. O responsável apresentou as preocupações crescentes para a área de logística de frio, desde a capacidade dos terminais para Reefer Plugs e para receber contentores refrigerados, back-ups (como UPS ou geradores).

Por parte do armador, Fábio Vitorino apresentou o investimento que têm feito em navios, mas não tanto ao nível da capacidade, mas sim na redução da pegada. Ao mesmo tempo, acompanha a tendência crescente de preocupação com a visibilidade em tempo real, enquanto prioridade para 75% do mercado. Através da digitalização deste setor, o cliente tem agora acesso às variações de temperatura dos contentores, temperaturas, tempo que esteve desligado, entre outras informações cruciais.

A concluir o painel, Carlos Sampaio e Frederico Rosa abordaram o caso dos custos energéticos e como podem as empresas geri-los, aumentando o consumo em horas mais baratas e reduzir nas muito caras. Um desafio apresentado é também a qualidade do frio desde a sua produção até ao cliente final, sendo uma tendência o maior rigor nesta cadeia.

Christine Weiker, da ECSLA (European Cold Storage and Logistics Association), apresentou a associação e as medidas que têm para o setor a nível europeu. A associação representa, direta e indiretamente, milhares de empresas de logística fria, e uma capacidade total de mais de 60 milhões de metros cúbicos.

A terminar o dia, Ordina Afonso moderou o último painel do evento, contando com Maria José Dias, do Gate Group, Rita Ferreira, da Associação Portuguesa de Nutrição e Ana Soares, da Schreiber Foods, sob o tema “Nutrição e Segurança Alimentar na Logística de Frio”. Neste momento, foi debatida a importância do controlo e da monitorização da cadeia de frio para a qualidade e segurança alimentar. Nesta área as variações de temperatura podem ser um problema crítico e colocar em causa os produtos, pelo que os operadores logísticos da cadeia de frio têm um papel redobrado.

O encerramento do evento ficou a cargo de Luís Cruz, da APLOG, que sintetizou a sessão de trabalhos, reforçando o papel da logística de frio para o setor.

Nota: Notícia atualizada a 18 de março pelas 9h25min.