A logística é um dos setores fundamentais para a economia global e, em Portugal, desempenha um papel estratégico no comércio, distribuição e transporte. No entanto, a presença feminina na logística ainda é desproporcionalmente baixa, refletindo barreiras históricas e culturais que precisam de ser superadas. Nos últimos anos, houve avanços significativos, mas os desafios permanecem. Este artigo explora a importância das mulheres no setor, os obstáculos que enfrentam e como podemos promover um ambiente mais inclusivo.
A presença feminina na logística: onde estamos?
Em Portugal, as mulheres representam cerca de 42% da força de trabalho no total, segundo a Informa D&B. No entanto, no setor da logística e transportes, esse número é muito menor. Dados da Comissão Europeia indicam que, na Europa, apenas 22% dos profissionais de logística e transportes são mulheres.
Especificamente no transporte rodoviário, um dos segmentos mais relevantes da logística, apenas 3,7% dos motoristas em Portugal são mulheres, de acordo com os Censos de 2021. Em comparação, a média europeia também é baixa, mas países como Espanha apresentam uma participação feminina um pouco maior, em torno de 23,5%.
Nos cargos de liderança, a desigualdade também se manifesta. Apenas 26,9% dos cargos de gestão e direção executiva na logística são ocupados por mulheres, um número abaixo da média geral de outros setores. Isto demonstra que, embora as mulheres estejam a entrar na indústria, muitas ainda enfrentam dificuldades em progredir para posições de liderança.
Desafios enfrentados pelas mulheres na logística
As mulheres que trabalham na logística enfrentam diversos desafios, incluindo:
Estereótipos de género – A logística tem sido, historicamente, dominada por homens, e muitas vezes as mulheres são desencorajadas a seguir carreiras no setor. A perceção de que é uma área “pesada” e “física” continua a ser uma barreira.
Falta de visibilidade e representatividade – A escassez de modelos femininos de sucesso na logística torna difícil para jovens profissionais identificarem-se e aspirarem a carreiras nesta área.
Ambiente predominantemente masculino – Em muitas empresas, as mulheres são minoria, o que pode criar dificuldades na adaptação ao ambiente de trabalho e gerar desafios relacionados à cultura organizacional.
Dificuldades na conciliação entre vida profissional e pessoal – A logística, muitas vezes, exige horários irregulares e trabalho noturno, o que pode ser um entrave para muitas mulheres, especialmente para aquelas que assumem a maior parte das responsabilidades familiares.
Apesar dos desafios, muitas mulheres têm conquistado espaço e desempenhado papéis de destaque na logística em Portugal, e no mundo. Empresas como a DHL e a Maersk têm desenvolvido programas de inclusão para mulheres, oferecendo mentorias, formações e redes de apoio para incentivar o crescimento profissional feminino na logística.
Porque é que precisamos de mais mulheres na logística?
Além da questão da igualdade de oportunidades, há benefícios tangíveis em ter mais mulheres no setor:
Melhoria na gestão e organização – Estudos indicam que equipas diversas são mais eficientes e inovadoras, trazendo novas perspetivas para a resolução de problemas logísticos complexos.
Aumento da produtividade – Empresas que promovem a diversidade tendem a ter melhores desempenhos financeiros, pois criam um ambiente mais inclusivo e colaborativo.
Maior inovação – A presença feminina contribui para a inovação em processos, desde a gestão de armazéns até estratégias de distribuição e supply chain.
Capacidade de comunicação e trabalho em equipa – As mulheres, frequentemente, destacam-se em competências interpessoais, o que melhora a dinâmica das equipas e a gestão de clientes e fornecedores.
Como promover a inclusão das mulheres na logística?
Programas de formação e capacitação – Criar iniciativas voltadas para a qualificação e desenvolvimento das mulheres na logística, desde cursos técnicos até MBAs especializados.
Mentoria e redes de apoio – As empresas devem incentivar programas de mentoria em que mulheres em posições de liderança ajudam a desenvolver talentos femininos emergentes.
Políticas de flexibilidade laboral – Horários adaptáveis e políticas de apoio à maternidade podem facilitar a entrada e permanência das mulheres no setor.
Campanhas de sensibilização – Mostrar histórias de sucesso e divulgar o papel das mulheres na logística ajuda a desmistificar preconceitos e a encorajar mais jovens a integrar nesta área.
Anabela Marcelino, Diretora Geral | Keta Foods