O estudo “The Mineral Shortage Is a Growing Problem. Hubs Offer a Solution”, da BCG – Boston Consulting Group, revela que a procura por minerais críticos pode aumentar até 10 vezes na próxima década, atingindo um valor de 750 mil milhões de dólares. Segundo a fonte, o realinhamento geopolítico e das rotas comerciais poderá interromper até 30% do comércio global de minerais na próxima década.

Minerais críticos, como lítio, níquel, grafite, cobalto e elementos raros deverão ser mais procurados, pressionando as cadeias de abastecimento. Têm emergido oportunidades de negócio como hubs minerais regionais, sendo possíveis soluções para assegurar a estabilidade da oferta.

Estes minerais são recursos cada vez mais vitais para a economia mundial, e o setor enfrenta grandes desafios. A procura por estes minerais coincide com restrições geológicas, operacionais e tecnológicas, desde o esgotamento das minas existentes, um declínio geral da qualidade dos minérios ou uma deslocação das explorações para regiões de maior risco do ponto de vista geopolítico. Também a maior regulamentação social e ambiental contribui para o prolongamento dos prazos de licenciamento, levando a que o tempo médio entre a exploração e o início da produção seja atualmente de 16 anos. Esta demora poderá reduzir o valor de um projeto em mais de 60%, o que irá reduzir a sua atratividade para os investidores e prejudicar a sua viabilidade.

As restrições de exportação, iniciativas de deslocalização, medidas protecionistas sobre os recursos e as tensões geopolíticas atuais são ameaças às cadeias de abastecimento de minerais, intensificando a concorrência por minerais essenciais à escala mundial. A China é responsável por 60% do processamento global destes minerais, o que dificulta os esforços de diversificação do seu fornecimento e aumenta a dependência externa, aumentando os riscos de abastecimento. No caso dos EUA e dos países da UE, estes estão a esforçar-se por garantir um acesso estável e sem restrições aos materiais essenciais para as suas indústrias.

Segundo o estudo, 20% do fornecimento total de minerais globais de que o mundo irá precisar ainda não foi localizado, o que agrava a escassez de recursos e a disputa por estes, colocando em causa a transição energética, o desenvolvimento da indústria tecnológica e setores estratégicos para a economia global no processo de descarbonização.

“A crescente necessidade de minerais essenciais exige que empresas e governos adotem estratégias urgentes para garantirem um abastecimento seguro e sustentável”, afirma Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa. “A volatilidade dos mercados, as restrições comerciais e as medidas nacionalistas sobre os recursos evidenciam a necessidade de diversificação e reforço das infraestruturas de processamento. A criação de polos minerais regionais surge como modelo para mitigar riscos, reduzir custos e garantir resiliência, enquanto permite maior controlo sobre a cadeia de valor, fomenta a inovação tecnológica e fortalece a competitividade a longo prazo”.

O aparecimento destes hubs minerais regionais enquanto alternativa para minimizar riscos e garantir um acesso estável e eficiente aos minerais essenciais, fazendo face à escassez da oferta e realinhamento das cadeias de abastecimento já é visível. Países como a Indonésia, Marrocos e Arábia Saudita estão a investir fortemente em infraestruturas de processamento para se posicionarem como centros estratégicos na cadeia de valor dos minerais críticos. Os hubs centralizam os produtos minerais concentrados de vários locais antes de os transformarem e venderem a utilizadores finais e, ao permitirem acordos de compra estáveis com parceiros ou promotores, asseguram a procura a longo prazo.

O estudo da BCG revela sete elementos essenciais para que um polo mineral regional seja bem-sucedido:

  1. Fornecimento estável de minerais, garantido por parcerias estratégicas e acordos com governos de países ricos em recursos.
  2. Acesso a mercados a jusante, mediante integração em cadeias produtivas globais, seja através da procura interna ou de acordos de comércio com grandes mercados como os EUA e a UE.
  3. Elevada capacidade de processamento, alicerçada numa infraestrutura do que permita o processamento em larga escala para garantir eficiência operacional.
  4. Garantia de uma infraestrutura integrada, isto é, com boas redes de transportes, como portos, ferrovias e rodovias, além de acesso a água e matérias-primas essenciais.
  5. Acesso a energia acessível e sustentável, dado o elevado consumo energético do processamento mineral.
  6. Acesso a capital de baixo custo, ou seja, tem de atrair investidores globais para financiar infraestruturas
  7. Apoio governamental, através de regulamentação eficiente, incentivos fiscais e investimentos em qualificação de mão de obra e inovação.

Isto envolve uma cooperação entre governos, indústria e investidores, de modo a criar um ambiente regulatório favorável e impulsionar o desenvolvimento de infraestruturas, assegurando o acesso generalizado e justo a estes recursos escassos.

“Portugal deve posicionar-se como um hub de minerais, capitalizando nos seus jazigos de lítio e na energia renovável. A instalação de refinarias e a simplificação dos processos de licenciamento podem atrair investimentos e fortalecer a cadeia de abastecimento europeia. Com políticas adequadas e o incentivo à economia verde, Portugal pode liderar na transição para um mercado de minerais mais resiliente e sustentável”, conclui Carlos Elavai.